sexta-feira, 2 de março de 2018

Coluna Rede Literária, edição #151 de 02.03.18

Prólogo

Salve povo bacana!

Obrigado pelos acessos e pelos compartilhamentos da coluna. Esse apoio é fundamental para manter viva o fogo da boa vontade redatora.

Continuem enviando sugestões de notícias e avisando as amizades sobre cada nova publicação.

Ah, e quem quiser doar algo para ajudar na sustentação financeira deste projeto, deve só clicar no botão do Pagseguro aí do lado na versão desktop.

Ou então me contata que a gente conversa sobre um banner publicitário.

Edgar Borges

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TEMPO AO TEMPO 

Abrimos a coluna mostrando o vídeo Tempo ao Tempo, gravado em Florianópolis pelo rapper Big Berg e que conta com a participação poética deste colunista cultural aqui, inspirado fazendo rimas.

 


FESTANÇA

Autor dos livros "Gaudério" (de poesia tradicionalista gaúcha) e Grito de Alerta (prosa, escrito em
parceria com João Euclides Junges), o escritor Édison Eroquês Velho, gaúcho de nascimento, roraimense por opção e dono de uma coleção gigante de prêmios como declamador de poemas, completou mais um ano de vida no dia 28 de fevereiro.

Para homenageá-lo e parabenizá-lo, trouxemos alguns poemas novos de sua autoria, colhidos em sua página pessoal do Facebook. 

O poeta, falando nisso, foi um dos ganhadores do primeiro edital de literatura da Secretaria Estadual de Cultura de Roraima. Sua nova obra se chamará "Eroquês - histórias, causos e lendas - em poesia" e será lançada ainda neste ano.




Versos para o fim de tarde

Quando as águas inocentes
Vêm brincar de correntezas
Toda paz está presente
Nesse encanto de beleza
***Mas seguindo mais em frente
***Há um gemido de tristezas
***E a voz de um rio, dolente,
***Aprisionado na represa
eedvelho
O pranto dos rios me comovem...

****

A Prece

Eu peço ao Nosso Senhor
Aos Arcanjos e aos Serafins
Se eu não puder ser melhor
Que eu seja menos ruim

*****


Na tarde os sonhos perdidos
Se encontram na mesma estrada
Cantam versos envelhecidos
Com a saudade remoçada

******


No Paraguay, lá nas bibocas,
Morávamos numa palhoça,
E eu pilotava uma carroça
Pra vender lenha ou mandioca...
E, como tatu saindo da toca
Eu seguia para a cidade
Com muita fé e vontade
Pra vender a produção.
Hoje que os tempos se vão
Aquele tempo é saudade.

*****

A gente já publicou outros poemas do Eroquês e contou sobre seus projetos e conquistas aqui. Dá uma clique e confere. 


COLECIONISMO

A turma de colecionadores de Boa Vista já tem um lugar para encontrar-se todos os sábados, sempre a partir das 10h: o Espaço de Cultura e Arte União Operária, ali na avenida Nossa Senhora da Consolata.

A primeira reunião aconteceu no final de semana passado, com alguns participantes do Clube dos Colecionadores levando peças de suas coleções.

Foto: Jorge Macêdo

Foto: JPavani

Se quiser chegar nas próximas reuniões, é só aparecer e trocar ideias sobre coleções de todo tipo. O pessoal recebe bem todo mundo e gosta de conversar.

IGARAPÉ MUSICAL

Depois de você passar no encontro dos colecionadores, mandar-nos sua foto exibindo o que levou, almoçar e descansar, que tal ir curtir uma noite bacana no primeira edição de 2018 do projeto Igarapé Musical, ali na praça do Mirandinha, uma promoção do Instituto Boa Vista de Música?


Antes do show da banda Jamrock, que só começa a tocar lá pelas 21h30,  o palco ficará liberado para quem quiser apresentar o seu som.

Se você tem banda, chegue lá, converse com a organização e exiba-se.

DESABRIGADAS

Na próxima quinta-feira (8) comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Sensibilizados com a situação precária em que estão dezenas de migrantes vindas da Venezuela, um grupo promove uma ação de arrecadação de materiais de higiene para estas mulheres.

Até o dia 15 de março os lindos leitores desta coluna podem colaborar com esta causa. Os contatos, o que doar e onde deixar estão no banner abaixo:





PARADA DAS MULHERES


Falando em mobilização, o Numur (Núcleo de Mulheres de Roraima) convida homens e mulheres para participarem da mobilização que vai realizar no dia 8 de março, às 8h, na Praça do Centro Cívico.


Para quem vive no estado em que mais se matam mulheres no Brasil, é bem importante fortalecer ações deste tipo.

E, por favor, se você não concorda com o fato de que as mulheres merecem igualdade, respeito e coisas legais do tipo, fique quieto. Não venha denegrir nem atacar quem se mexe para ajudar a tornar o mundo um pouco melhor.

Para confirmar presença no evento via facebook, clique aqui.


MAIS RAP 

 A turma do rap Roraima está em ritmo alucinado de produção.

Como eu gosto deles, vai aqui mais um vídeo nesta edição, com a letra de “Nunca Desista dos Seus Sonhos”, nova música dos rappers Publicano e 7niggaz, integrantes do coletivo musical ABANKATODA:

 

No canal do 7niggaz é possível conferir outras produções de rap locais.


 E-BOOK

Capa do e-book
Ricardo Dantas, autor do livro Meia Pata, lançou na semana passada o e-book “As aventuras de Jota
Cabeça e seus Guachebas”, que narra em linguagem teatral a história do personagem que dá nome ao livro.

Parodiando a história de Jesus Cristo e seus apóstolos, o texto é ambientado no interior do estado de Roraima e traz personagens como Juanito, o Justo, conselheiro de assuntos gerais de Jota; Zoinho, o Cuca, cozinheiro especial dos peregrinos “laricados”; e X-9 Scariotes, o Confiável, braço direito e braço esquerdo de Jota Cabeça.

Confira a seguir o segundo capítulo da obra:


EPISÓDIO DOIS

O DIA EM QUE FOI ESPALHADA A CONVERSA DE QUE O SURDO OUVIU A PARADA DE COMO O CEGUETA VIU O ALEIJADO DAR UM PINOTE NO COLETOR DE IMPOSTOS
Personagens
JOTA CABEÇA
PET
ZOINHO
JUANITO
ALEIJADO
CEGUETA
SURDO
COBRADOR DE IMPOSTOS
SOLDADO
PORTUGA

ALEIJADO
– Uma esmolinha pelo amor de Deus... (o Aleijado estendendo um pote de margarina, escorado na porta de um bar do interior de Amajari)

COBRADOR DE IMPOSTOS
– Esmola é a porra! Passa pra cá as moedas Aleijado filho da puta! (o Cobrador pega as moedas e ainda dá um “chute-pé” no Aleijado)

ALEIJADO
– Caralho! Este cobrador da porra sabe que não posso correr dele!

COBRADOR
– Ei, Soldado! Pergunte pro Cegueta se ele viu onde foram os velhacos do caralho que ficaram devendo o imposto da semana passada!

SOLDADO
– Cegueta! Você viu algo?

CEGUETA
– Não senhor, eu sou ce... Ahhhhhhhh! (calado por um pescoção do Soldado)

SOLDADO
– Porra, Cegueta! Você não presta pra nada! Melhor te fazer em pedaços! (enche o Cegueta de porrada).

COBRADOR
– Chega! Chega, Soldado! Começo a acreditar que este Cegueta nunca viu nada mesmo! RARARARARARARA (uma risada de sádico filho da puta) Vá lá no Surdo e pergunta se ele ouviu algum boato sobre um “Salvador” que está por vir!

SOLDADO
– Ei, Surdo! (fazendo sinais com a mão para chamar a atenção do Surdo) Ei, porra! Tá me ouvindo não? (o Surdo finalmente olha para o Soldado) Surdo do caralho, ouviu algum boato sobre a vinda de um “Messias Salvador”?

SURDO
– Huuummm. Humhumhummm. Hummmhuuummm. (o Surdo é desmurmurado por vários golpes de MuaiTay deferidos pelo Soldado. O Cobrador cospe na cara do Surdo).

COBRADOR
– Adoro cobrar impostos nesse vilarejo! Não sei por quê! RARARARARARARA (uma risada de sádico filho da puta).

NARRAÇÃO [VOZ EM OFF]
Toda semana era a mesma rotina. O Cobrador de Impostos do Império Romano atormentava a vida daquele pacato vilarejo. No entanto, o Aleijado, o Cego e o Surdo eram os mais injuriados. Eles não tinham mais expectativas de nada. Faziam dez anos que aquela era a rotina. Mas finalmente existia uma esperança. Diziam que um Messias, um Salvador iria mudar a história daquela vila. E não muito distante dali, um grupo muito bizarro se aproximava do vilarejo.

JOTA
– Porra! Caralho! Filho da Puta! Que sede porra! Será que falta muito pra gente chegar neste próximo vilarejo?


********



POR ENQUANTO É SÓ



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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Coluna Rede Literária, edição #150 de 23.02.18

Prólogo

Buenas, povo bonito.

Chegamos orgulhosamente à edição número 150 da coluna Rede Literária.

Como é algo para ser celebrado, convidamos os leitores a nos convidarem para bebericar algo em troca de contarmos como é esta singela experiência de jornalismo cultural no meio do mundo.

Enquanto vocês decidem o boteco onde vamos nos encontrar, leiam, compartilhem e comentem a postagem desta semana.

No aguardo de seus contatinhos,

Edgar Borges

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ANARRIÊ

De olho nos inúmeros arraiais que acontecem em Roraima, as quadrilhas juninas já começaram a ensaiar em escolas e outros espaços. Uma delas é o Grupo Folclórico Coração Caipira, que buscará novamente os títulos de campeã municipal e estadual roraimense (este aqui lhe assegura uma vaga no concurso Nacional de Quadrilhas Juninas que neste vai rolar em Boa Vista).



 Se você quiser conferir os ensaios da Coração Caipira, é só chegar sábados e domingos às 17h na escola estadual Girassol, rua Jango Menezes, bairro Buritis.


ARTE DIGITAL

“Kraken”, aquele bicho enorme mitológico que habita as profundezas do mar, é o título da ilustração feita recentemente pelo Edgarzinho Ebb, filhote artista de 10 anos deste blogueiro que ama vocês. A imagem foi produzida no Paint a partir da ressignificação das imagens padrão do programa.



Mande também sua arte digital (ou digitalizada) para nós, com seu nome, título da obra, site ou rede social. Será um prazer divulgar.

TOMA CULTURAL



Artistas brasileiros e venezuelanos fizeram na última segunda (20/02) uma ocupação cultural na praça Capitão Clóvis, Centro de Boa Vista, levando música, poesia, arte e alimentos para os migrantes que ocupam o espaço.



A intervenção serviu para atenuar o sofrimento dos migrantes que estão abandonando a Venezuela por conta da crise econômica do país vizinho e vindo morar em Boa Vista. Dezenas estão acampados na praça, dormindo ao relento e sobrevivendo de doações enquanto não conseguem espaços próprios para viver ou avançam rumo a outras cidades ou países.



A poeta Elimacuxi foi uma das artistas que participou da Toma Cultural e é a autora destes registros de amor e solidariedade. É dela também o texto a seguir, comentando porque se engajou na ação:



“A arte não é uma fuga da realidade trágica da fome. É um saciar de outras fomes. Ninguém quer só sobreviver. A arte transforma dor em potência. Mobilizados pela Zoë Clara, Benjamin Mast e a banda Los Goliardos, muitos se envolveram na tomada cultural da Praça Clóvis. Os sorrisos colhidos são nosso troféu. Ganhamos todos ao demonstrar que em Boa Vista há quem não se acomode com o discurso de ódio, quem diz Não à xenofobia e abraça a solidariedade como forma de fazer, da vida, arte.”




POESIA

A seguir, um poema visual falando sobre solidariedade, de autoria de Carolina Uchôa, que tem outras coisas para serem lidas em sua página no facebook. 





SEJA SOLIDÁRIO

Ainda no clima da questão migratória, vamos a uma nota de utilidade pública: centenas de migrantes estão vivendo maus momentos nas praças e abrigos da cidade. Sensibilizadas com isso, pessoas de bom coração organizam quase que todo dia a distribuição de alimentos nestes locais.

Se você quiser ajudar doando alimentos marmitas, dinheiro para comprar gás ou voluntariando-se para dar uma força na preparação e distribuição dos alimentos, é só entrar em contato com um ou com todos esses telefones aí a seguir. Faça isso. O mundo agradece.


981113019    -  981072920   -   981146681

Guardou na agenda? Agora é só ligar.


COLECIONISMO

Dá um chega neste sábado (24) no prédio do Espaço de Cultura e Arte União Operária e participa da reunião do Clube de Colecionadores. A turma fechou parceria com a UFRR, responsável pelo prédio, e agora passa a fazer seus encontros no local, que fica na avenida Nossa Senhora da Consolata, 565, Centro.

A reunião começa às 9h e qualquer pessoa com interesse em colecionismo pode participar. O grupo nasceu no dia 29 de novembro de 2014, com uma proposta bem simples: encontrar-se todo sábado na antiga Livraria Saber e trocar informações e dialogar sobre coleções de todo tipo.



Por isso os participantes sempre levam peças de suas coleções para mostrar aos colegas. Aparece de moeda antiga a máquina fotográfica, passando por miniatura de carrinhos.

Aqui no blog a gente já falou outras vezes sobre colecionismo. Se quiser conferir, clica.


MAPEAMENTO

A Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima (Aterr) iniciou uma campanha de arrecadação de material escolar e de higiene, além de brinquedos, para distribuir entre os migrantes venezuelanos.

Se quiser colaborar, ligue para 999173300 ou 991161967.



Além desta campanha, a Aterrr prepara-se para uma tarefa que vai exigir todo apoio da comunidade: fazer um mapeamento das travestis que vieram morar em Roraima por conta da onda migratória venezuelana.

Quem souber de alguém, avise.


MONTE RORAIMA

Termina nesta sexta (23) a exposição com fotografias digitais do Monte Roraima na galeria Galeria Franco Melchiorri (Sesc Mecejana).


Os interessados têm até as 21h para conferir as imagens, produzidas durante uma excursão realizada no ano passado à montanha que dá nome ao nosso estado e é o berço das mais importantes mitologias indígenas da região.


A exposição é formada por imagens projetadas nas paredes da galeria e destacam a fauna, a flora e paisagens do monte. Numa das paredes da galeria é possível conferir um infográfico do Monte Roraima, pintado pela artista maranhense Vivian Alves.



YE’KWANA

A Universidade Estadual de Roraima (UERR) promove neste sábado (24) o seminário “A Distinção contável-massivo no Ye’kwana e em outras línguas Karib de Roraima: novas perspectivas de pesquisa linguística”.

O seminário será uma apresentação pública da pesquisa de doutorado desenvolvida pela professora do curso de Letras, Isabella Coutinho Costa. O trabalho mostra a distinção entre nomes contáveis e massivos no Ye’kwana, uma língua da família Karib falada no extremo noroeste de Roraima, na Terra Indígena Yanomami.

Também haverá um debate sobre as perspectivas de pesquisa linguística na área de línguas indígenas.

O evento é gratuito e aberto ao público.

BOOKCROSSING

Além de colunista cultural, sou também o autor do livro de contos "Sem Grandes Delongas". Há alguns dias iniciei um bookcrossing com ele (ou seja, estou deixando exemplares do livro em lugares públicos para quem pegar primeiro).

Já liberei exemplares no parlatório da Universidade Federal de Roraima e nas escadarias do prédio histórico Casa Bandeirante (ou JG Araújo, para os mais íntimos), no Centro.





Neste final de semana devo deixar na praça Mané Garricha e no bairro Cambará. Quem achar, dê aquele retorno para eu saber sua opinião. Quem quiser comprar, é só mandar e-email ou me contatar via redes sociais.




Ah, o blog do livro é este.



UM CONTO 

Marcelo Perez, autor do livro de contos “O desgaste do tempo nos dentes”, lançado em setembro de 2017, nos brinda esta semana com um de seus textos, intitulado

PARANOIA CONTAGIANTE

Eu vivo trancado em meus medos. Não pense que você é diferente. Mas não é mesmo. Eu tenho a
mente inquieta. Enxergo a vida em pedaços, vários ao mesmo tempo. Tenho a ligeira sensação de algumas partes, talvez as metades. E embora isso pareça um tanto quanto sufocante e eu posso garantir que é, sobrevivo. Não acredito em nenhuma mudança espetacular do ser humano. Somos todos doentes. A minha fé é mercenária. Somos exatamente o que deveríamos ser.

Todos os dias faço as mesmas coisas com a impressão de não haver escolhas, o livre arbítrio é alegoria da Bíblia. E como um boneco em suas limitadas funções, eu as repito. O banho gelado após o trabalho. Os três sanduíches de pão com queijo, quase queimados. Depois entro no quarto e morro de frio com dois ventiladores e a central de ar ao máximo. No fundo eu gosto da beira do abismo.
Estirado na cama, com o estômago entupido e ligeiramente anestesiado, meus olhos pesam como chumbo em água. E eu resisto. Eles completam uma piscada mais lenta, eu resisto, insisto em mantê-los abertos, insisto em pensar que a vida não é assim. Mas em bem pouco tempo, sem nem me dar conta, já fui. A vida é assim.

Após um pequeno intervalo, acordo desesperado. Como sempre faço. Não consigo dormir sem antes completar a ronda pelos cômodos da casa. E como um cachorro desconfiado, ávido pelo muro do seu território, eu executo rigorosamente a mesma trajetória. Vou até o escritório, chego bem perto da janela e observo. Em seguida, me distraio na estante com as fotos da família, a cada dia me parecem diferentes os olhos distantes. Passo pela sala vazia, ainda sem mobília e arrisco uma olhada na janela. Entro na cozinha e com a luz apagada percorro todo o comungol, de uma ponta a outra da parede. Ele forma um imenso painel com ampla visão do fundo do quintal. A escuridão atraente dos terrenos vizinhos, o silêncio da noite de olho no descuido do alvo e a chuva insistente do inverno. Tudo parece normal.

Mas na semana passada, após rondar por todos os cômodos, quando eu já havia deitado na cama de vez, ouvi barulhos estranhos do lado de fora. Não era o vento incansável e nem as folhas arrastadas nas patas dos cães. Encostei o rosto na grade da janela da sala e espiei por um tempo um pedaço de rua sozinha lá fora. Entrei na cozinha, percorri todo o perímetro e nada. E foi enquanto eu bebia um copo com água, com os olhos apontados para o fundo do quintal eu avistei dois vultos. Por uns instantes não tirei os olhos daquela imagem, queria perceber algum movimento frequente, justificando a necessidade das minhas rondas noturnas. Até reconheço traços de uma psicopatia presente neste meu hábito obscuro, mas também confesso o quanto é excitante pensar na possibilidade de um dia, de fato encontrar algo. E isso é inexplicável.

Então, o grito. Depois da história esquecida dos vultos, eu estava dentro do quarto quando ouvi. Voltei correndo à cozinha, me escorei na beira do comungol e avistei do outro lado da cerca um homem de boné, agarrado aos cabelos de uma mulher. Percebi a discussão pelo excesso dos gestos. O homem levantou o braço e em seguida golpeou o pescoço dela por diversas vezes. Foram seis estocadas. E na sequência, outro grito. O estranho imediatamente olhou para o escuro, na minha direção. Não sei bem explicar como foi, eu deixei escapar esse grito, lá no fundo jamais queria ter visto, o indivíduo percebeu, descontrolado ou talvez mais excitado, continuou golpeando o pescoço da vítima, golpeava o pescoço da vítima, e a cada golpe ela se desfalecia.
— O que foi isso, criatura? — minha mulher invadiu a cozinha, acendeu a luz e começou a me questionar. Nesse momento o agressor olhou novamente na direção da minha casa.

— Apague essa merda! — gritei com ela. E a cena sumiu tão rápido como neblina na beira da estrada.

— Acabei de ver uma mulher sendo esfaqueada — eu disse.

— Você tá de sacanagem... — ela não acreditou — você come demais antes de dormir. E devia parar também com essas rondas noturnas pela casa. Tá cada dia mais paranoico, seu maluco!

Depois de tanto fritar na cama, adormeci. A casa toda trancada. De alguma forma, naquele momento, isso me acalmava. No outro dia, acordamos sem muitas palavras. Como de costume, fui cuidar dos cachorros no quintal. Fiquei observando os pequenos matando a sede e sem querer desviei a atenção para o fundo. O outro lado da cerca escondia o cenário de uma tragédia, disso eu tinha certeza. Eu não era nenhum maluco. Quando me dei conta, estava rastejando pelo mato, farejando como um cão policial, investigando cada pedaço de chão em busca do alívio imediato. E foi perto da cerca, foi perto da cerca que encontrei a prova da minha sanidade. Um boné caído, sujo de sangue. Precisava avisar minha esposa.

Voltei correndo e chegando próximo da porta ouvi um grito vindo de dentro. Quando entrei na cozinha, ela estava agachada no canto da parede, completamente estagnada, olhando para o armário do outro lado — o que foi, amor? — perguntei, me aproximando devagar. Ela, tremendo e quase sem forças, apontava para o móvel. Ainda escorria um filete de sangue na porta. Cheguei bem perto, hesitante, e quando eu abri.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Eu começo a minha ronda às onze horas. A minha mulher fará o turno das duas da madrugada. Estamos agora dividindo a noite em turnos de três horas. Às vezes, ficamos os dois acordados, armados, cada um de um lado da casa se comunicando pelo WhatsApp. Está ventando demais essa noite. Demais. Isso não é normal. Isso não é normal. A madrugada vai ser extremamente agitada... eu acho.

******
Se quiser adquirir o livro “O desgaste do tempo nos dentes”, ligue ou mande e-mail para o Marcelo:
(95) 98114-0349 / marceloperezmaciel@gmail.com.


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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Coluna Rede Literária, edição #149, de 16.02.18

Prólogo

Salve, sobreviventes à folia e ao descanso do Carnaval 2018!

Obrigado a todxs que compartilharam a edição da semana passada, colaborando para divulgar a literatura de Roraima e o seu enfoque sobre a questão migratória.

Nesta edição trazemos dicas de concursos literários, poemas, música, sugestões de leitura e também arte digital.

Se gostar, compartilha de novo ou pela primeira vez!

Edgar Borges

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CONCURSO LITERÁRIO 





Olha aí, povo das escolas públicas de Roraima!

O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) recebe até o dia 2 de abril de 2018 as inscrições no concurso literário “Faça parte dessa história”. Podem participar estudantes do ensino fundamental e médio das escolas públicas com obras nos gêneros poema, conto, crônica, novela, teatro; romance, memória, diário, biografia, relatos de experiências e história em quadrinhos.

O terceiro lugar de cada uma das categorias receberá um tablet e o segundo um notebook.

Quem ficar em primeiro lugar em cada categoria terá direito a um notebook e a uma viagem internacional para conhecer a Feira do Livro de Frankfurt, considerada a maior do mundo.

Interessados? Cliquem para ler o regulamento.


AJUDE A LITERATURA A NAVEGAR

Quer fazer o bem e ajudar um projeto literário super lindo a continuar suas atividades? Então lê com atenção:

A turma do projeto Barca das Letras, iniciativa existente há uma década, aprovou na Lei Rouanet (Lei de incentivo à cultura) a captação de recursos para uma nova jornada pelo Brasil.

A intenção é fazer 13 ocupações lúdicas, com distribuição gratuita de livros e apresentações culturais, em comunidades ribeirinhas, quilombolas e indígenas do Amapá e Pará.

Foto: Blog Barca das Letras

Onde entra você? Simples: doando até 6% de seu Imposto de Renda (pessoa física) pago/descontado na fonte durante este ano para o projeto.

100% da doação/patrocínio poderá ser deduzido/restituído na Declaração do Imposto de Renda no ano seguinte à doação.

Dados do Ministério da Cultura revelam que projetos da Região Norte do Brasil são os que menos conseguem captar recursos via Lei Rouanet (apenas 0,8%), enquanto os Estados do RJ e SP ficam com 80%, os da região Sul com 11%, Nordeste com 5,5% e Centro Oeste 2,6%.

Foto: Blog Barca das Letras

Se ficou interessado em colaborar nem que seja com uns 50 reais (é possível bem mais, só para dizer), clique para conhecer o projeto aprovado e ter mais detalhes sobre como doar. 

A literatura agradece!


CONVIVÊNCIA

Aldair Ribeiro (Foto: Divulgação)


O poeta e servidor público do Judiciário Aldair Ribeiro desenvolveu a cartilha “Convivendo com Pessoas com Deficiência”, uma compilação de dicas sobre as maneiras adequadas de se lidar com cadeirantes, pessoas com muletas, deficientes visuais, deficientes auditivos e pessoas com paralisia cerebral, entre outros.

A publicação é fruto das situações pelas quais passou o próprio Aldair, que apresenta deficiência auditiva.

O autor distribui a cartilha em sua versão impressa ou em PDF em todos os lugares onde existe atendimento ao público e você pode baixá-la clicando aqui.






RESIDÊNCIA




Atenção, escritores de Roraima que acessam esta coluna e querem passar um tempo fora do Estado, olhem a chance: o Sesc SC lançou um edital de Residência Literária em Florianópolis e Blumenau.

Pode participar da seletiva todo autor que possua entre dois e oito livros publicados em seu nome.

Cada candidato deve enviar uma proposta de ação social para formação de leitores ou escritores durante o período da residência. Dois projetos serão selecionados. Os escritores vão ficar dois meses em Santa Catarina, com hotel e uma bolsa de R$ 10 mil.

As inscrições estão abertas até o dia 5 de março de 2018 e a residência vai acontecer entre 15 de maio e 15 de julho de 2018.  Para saber mais, cliquem aqui e leiam o edital completo. 


POEMAS DA NARA

Esta semana apresentamos os poemas da estudante de jornalismo e fotógrafa Nara Michelly.


Despedida

Ilustração: Kiko Dinucci
A culpa vem mesmo fazendo feliz o coração que é morada tua
Saudade ego doença loucura
Toma intento desse mandamento que eu escrevi
A partir de hoje eu não rego mais flor de plástico
Não arredo, arregaço
Por vezes concedo danças
Não merecidas
“É carnaval, amor”
Tu me dizias.
Recuo
Me livro da culpa,
Com o perdão da palavra
Palavra dita e escrita
Por um espírito prostituído
Mudo, cego
Surdo e mal dito




************

Jazz

Ilustração: Tina Maia Helena
Escrevi a imagem de você nu
como se fotografasse
para rever na tua ausência
nu
e tão pouco despido
esfíngico
me devorando sem que fosse decifrado
E eu, cortina entreaberta
pelo avesso
deixei passar uma fresta de luz
como há muito não fazia
para o sol não queimar
Era uma vontade de beijar
cada fragmento da matéria tua
trompetes clarinetes e trombones do jazz libidinoso
que você tocava no meio de mim
Na noite do antepenúltimo dia do velho ano
que não queria tornar-se novo
como se fizesse casa ali em nós
estava cansada extasiada
para o ano que viria
esfíngico
me devorando sem que fosse decifrado


*************************


Andrômeda


Ilustração: Kiko Dinucci

Olhos negros
De pano de fundo
Ora dispersos, ora de versos
O sorriso universo
Tão grande
Que podias esconder-se embaixo dele
E eu em cima de ti
As mãos abertas, atentas
Mil estrelas em teus olhos
Cosmos
E o calor do verão nos lábios
Castos


*****

Nara tem outras publicações em seu blog.



E-BOOK

Quem quiser aprender a contar histórias já pode baixar o e-book “Viaje sem sair de casa - Guia para contação de histórias", da Fundação Abrinq.

Destinado a pais, educadores e cuidadores, o material mostra como preparar o momento e o ambiente para a contação; e também como conduzir a atividade, envolvendo os mais novos e permitindo, inclusive, que a criança interaja e contribua com as narrativas.

O material é gratuito e pode ser baixado aqui.


LEIA MULHERES

No dia 25 de fevereiro rola o encontro mensal do clube de leitura Leia Mulheres.

A autora do mês é Gioconda Belli, com seu livro “País das Mulheres”. A mediação ficará a cargo das leitoras Karine Blanco, Tatiane Brandão e Tharin Radin.

O encontro começa às 17h e será na praça da pirâmide, ali em frente a entrada da UFRR. O grupo costuma reunir-se em diversos lugares de Boa Vista para conversar sobre as impressões causadas pelos livros escolhidos.
Clube Leia Mulheres RR (Foto: Márcia Luz Souza)

Foto: Márcia Luz Souza

Para acompanhar a programação e trocar ideias on-line com os participantes do grupo, curta a fan page do clube.


PASSADO RISCADO

O rapper de origem amazonense Big Berg, que já morou em Boa Vista e hoje vive em Florianópolis (SC), lançou semana passada o clip de sua música Passado Riscado. Confere a pedrada:





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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Coluna Rede Literária, edição #148, de 09.02.18

Prólogo

Salve, turma que vai cair na folia!

É tempo de Carnaval e cá chegamos trazendo textos de prosa e poesia produzidos em Roraima, todos abordando a questão da migração.
Nestes dias de proliferação do discurso do ódio contra os milhares de venezuelanos que vieram para as terras de Makunaima e foram tornados os causadores de todo mal que se abate sobre o Estado, o olhar especial dos escritores roraimenses é uma luz sobre a escuridão que projetam as centenas de postagens e comentários xenofóbicos em redes sociais todos os dias.
Além dos textos, trazemos também um documentário produzido pelos alunos do curso de Comunicação Social da UFRR abordando a questão da saudade que os migrantes sentem de suas casas e familiares. Ou você achou que a turma viaja e não lembra de mais nada?
Boa leitura e lembre-se, car@ leit@r: tenha empatia, entenda o contexto, seja luz e não o lado negro da força.

Edgar Borges

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PAPO DE TÁXI

Ricardo Dantas*


Foto: Marcos Lima
A cada dia começo a acreditar que o conhecimento absoluto se encontra nos táxis. Ou não...

Hoje, cerca de quatro horas da tarde, calor lazarento, não o típico calor de Boa Vista, estou me referindo ao estágio para o inferno! Daquele calor que sombra alguma adianta, nem mesmo se enterrando debaixo da terra! Nem a pau iria de ônibus, pois na verdade não são ônibus, são fornalhas motorizadas. Eu já estava havia cerca de dez minutos passando calor na esquina do Terminal da Praça das Águas. Passaram três táxis (por um motivo que ainda não descobri, possuem pavor de irem pela Princesa Isabel). Preferem Caranã, Bairro União, menos a Princesa Isabel. Deve ser raiva por ela ter dado alforria aos negros, sei lá, do jeito que as coisas andam hoje em dia, não duvido de nada!

Ao pegar finalmente um táxi, entro, sinto aquele maravilhoso frescor ártico do ar-condicionado e eis que, na minha imensa burrice, falo assim para o taxista:
‒ Bom mesmo é ser taxista, que trabalha o dia todinho no ar-condicionado! ‒ Logo após proferir tamanha imbecilidade, dei-me conta do sacrilégio que havia cometido.
‒ E a gasolina?! E o pneu?! E a manutenção?! E o óleo?! ‒ Esbravejou o taxista.
‒ É mesmo... É mesmo... ‒ Pianinho, apenas concordava. Mas o homem não parava.
‒ Troco de óleo a cada vinte e dois dias! Pneu é a cada três meses, e gasolina gasto cerca de cento e sessenta reais por dia! ‒ As palavras de ordem soavam como um político no palanque.
‒ Verdade, a gasolina está cara... ‒ Era a única coisa que poderia falar. O homem estava puto da vida.
‒ Hum! ‒ Resmungou como que se quisesse dizer: “Em que planeta você vive, abestado?!”.

Nessa altura haviam entrado mais passageiros, e completado a lotação. Paramos no sinal na Venezuela com a Brigadeiro, defronte à sede do IBAMA, e uma mulher comentou:
‒ Como essas pessoas conseguem passar o dia todo nesse sol quente?
‒ Isso não liga pra nada não! ‒ Agora estava na hora do taxista descontar sua raiva nos venezuelanos ‒ Isso aí aguenta tudo! ‒ reparem na forma como ele se referia aos venezuelanos: “isso”...
‒ Coitados... ‒ Compadeceu-se a mulher.
‒ Coitados nada! Ontem estive em Pacaraima e tem mais de mil andando no sol quente! ‒ informou o motorista.
‒ Estão vindo de Santa Elena para Pacaraima? ‒ perguntei.
‒ Nada! Estavam ali perto do Cem, andando mesmo, uns mil, tudo vindo para cá! Olha, Roraima acabou! ‒ O homem falava com ódio ‒ Essas porras estão vindo para cá e só vai ter tragédia! Assalto, sequestro, estupro...
‒ Que é isso, meu amigo! Não pense assim não. ‒ A xenofobia estava no nível máximo e eu queria pular do táxi.
‒ Ô besta! Mas não vai demorar muito e a polícia irá dar cabo de todos eles!
‒ O senhor está falando em extermínio? ‒ A parada estava ficando pesada.
‒ Ô besta! A polícia vai matar sem nem perguntar! Vai ter que ser igual na Venezuela, chegar e meter bala mesmo!
‒ Hômi, não fale isso. Não é correto... ‒ Estava desolado. Realmente o ódio e xenofobia será corriqueiro em Roraima ‒ Vou descer aqui.

*Professor e escritor, autor do livro Meia Pata.


EXODO

Aldenor Pimentel*




*Jornalista e escritor, autor do livro Livrinho da Silva. Mais infos no blog Arte de Aldenor Pimentel.


ESTRELINHA

Vitor de Araújo*

Créditos: GIFMania (http://bit.ly/2BMq5xL) 



Viro estrelinha
Enquanto não viro uma estrelinha.
Nesse tempo meu papa
Vende Pirulin da feira
(Brasileira)
No Sinal da Major o ilha
Com a Vil lhe rói


*Professor de Literatura. Escreve no blog Leve Mediocridade. 


QUESTIONAMENTOS


 Lambe-lambe produzido pela turma do Coletivo Carapanã especialmente para esta edição da coluna Rede Literária. Baixe, imprima, espalhe, lute contra o xenofobismo.





DESESPERANÇA

Elimacuxi*

Foto: : @_5le_


Chegaram-me hoje notícias de longe
de Green Point, de Cape Town
notícias de meninas pretas
lavadas em sangue,
jogadas em fossas
estupradas,
"corrigidas".

Chegaram-me hoje notícias de longe
de homens engravatados
grávidos de ódio
agravando abismos
em nome de deus.

Disseram-me forte hoje,
eu que burguesamente há dias
me esvaio em lágrimas
peito aberto, sangrado, sofrido
lamentando mais um sonho perdido
e desesperando por causa de amor...
eu recebi notícias de longe
que me ferem tal qual o abandono,
notícias que me tiram o sono,
notícias que me ampliam a dor.

Tanta treva
me trouxe à memória
notícias velhas de mis hermanas
putas pobres, travestis,
retirantes nordestinas
e imigrantes venezuelanas.

Sinto como se fosse minha cada ferida
e vago nesse escuro,
minha voz e meu verso são impotentes
embora eu não fique em cima do muro
sinto-me inválida, solitária e triste
diante da violência que avança
com a espada em riste
e veloz, vertiginosa
subverte sujeitos
e criminaliza afetos
nega aos não-normatizados
sua condição humana
e os descarta,
como abjetos objetos...

Históriadora e poeta, autora do livro Amor para quem odeia. Leia mais em seu blog.
http://elimacuxi.blogspot.com.br


SOBRE HUMANIDADES

Arte de rua colada em um poste da cidade de Santiago de Chile (Foto: Edgar Borges)




DESLOCADOS

Gabriel Alencar*

Atroz competição;
Do egoísmo a epítome,
Do interesse desmedido,
A última lesão.

Corre, se deita e se abaixa!
Não olha pra cima
Abraça e olha pra sua amada:
A hora final se aproxima.

Da janela vejo minha cidade
Nos escombros reconheço
Meu pai, minha mãe,
Toda minha verdade.

No refúgio busco reconstruir
A custos altos o que perdi.
Os olhos vorazes me perseguem
Não são mais meus inimigos
São os habitantes do lugar...
Tenho medo que me carreguem.

Minha casa está destruída e só essa vida me resta
Busco um abrigo, que não essa existência funesta.
_______________________________

Victoria, minha filha, tem fome
Pego o pacote de biscoitos
Só tem dois
Dou metade de um pra ela
Como as migalhas.

Hoje faz muito sol
Nossa água está quente.
Vejo um posto policial,
Mais à frente.

Nele me tomam o pouco dinheiro que tenho
Só me resta continuar andando.
Victoria está cansada, pego-a no colo.
Sigo caminhando.

Foram cinco dias nesta batalha
Minha filha hoje tomou uma sopa
E eu estou contente
Mas tem essa dor latente...

Consegui uma matrícula pra minha filha
Ela disse que consegue contar minhas costelas
Eu finjo que acho graça.
_______________________________

Quando o furacão chegou
Todos correram, todos caíram
Tinha um navio, de um amigo
Me carregou.

Minha irmã morreu na viagem
Cheguei numa terra estranha
Todos me olhavam e não me viam.
Uma miragem.

Consegui um emprego
Vendo gelado no palito
Aí levaram todo meu dinheiro
Porque tanto mal comigo?

Aqui faz sol, mas já estou acostumado
Alguns dias até vendo uns bocados
E me resta essa existência.
_______________________________

“Extra! Extra!
Tomaram-lhe a vida!
Extra! Extra!
Quem foi?
Só pode ser…
Foi por causa da bomba
Que ceifou sua família.”

“Últimas novas do dia:
A primeira delas morre no nosso hospital
Sua filha chorava alto, incomodava a todos!
Os médicos disseram que havia outros
Que já estava saindo do normal.”

“No noticiário de hoje
Anunciaram um assalto:
Foi um homem
Que falava engraçado.”
_______________________________

E deslocados, seguem
Por falta de opção
A vida que lhes foi imposta.
Viver não é mais diversão
É buscar alento nos pequenos momentos
Sobrevivendo no locus destas idas.
Quem sabe não exista ainda quem os acolha?
Que entenda o sofrimento, essa falta de escolha?
E assim seria muito melhor
Ter um amparo, em tempos de mal a pior.

*Músico e escritor ao acaso, título de seu blog.


IRMANDADES


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SOBRE SAUDADES



O documentário "Extraño" foi dirigido pela estudante de jornalismo Nara Michelly. Produzido para a disciplina de Jornalismo Comunitário do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR), aborda as dificuldades, o preconceito e a busca por uma nova vida pelos imigrantes venezuelanos que estão vivendo em Roraima.

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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Coluna Rede Literária, edição #147, de 02.02.18


Prólogo

Bom dia, boa tarde, boa noite a quem é de bem e acessa este blog para buscar informações sobre o mundo literário e artístico. Bom tudo principalmente para quem não embarcou na onda de xenofobismo que está varrendo o Estado, com parlamentares, integrantes dos governos municipal e estadual e deformadores de opinião alegando que a culpa de todos os males que Roraima vive é dos migrantes venezuelanos.
A vontade de jogar no outro a conta pelo que nos incomoda é um dos traços do roraimense: é assim desde que os primeiros invasores de terras, a serviço do império português, bateram as botas nesta região: a culpa do atraso é dos indígenas, os males são trazidos pelos nordestinos, os sulistas só querem aproveitar-se, o nortista só vem para roubar… O senso comum encontra fácil os seus alvos e poupa a turma de pensar um pouco mais sobre os impactos da falta de planejamento econômico e social, a macropolítica nacional e a corrupção em diversas esferas governamentais, entre outras questões. Tudo isso porque é mais fácil odiar do que pensar.


Edgar Borges

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MESMICE

Sobre isso do poder do senso comum, aplicável a uma imensidão de situações cotidianas, daquelas em que a gente pensa 9879898759823 vezes se vale a pena ou debater, fica aí para ajudar na reflexão uma charge que achei muito bacana do cartunista Benett. Todo dia ele publica em seu perfil no twitter.



 GANHADORES

Vamos conferir os textos ganhadores do II Concurso Literário Internacional Palavradeiros, cuja premiação foi realizada na última sexta-feira (26/01). O regulamento da próxima edição tem lançamento previsto para os próximos meses. O e-book com todas as obras pode ser conferido clicando aqui. 
Na categoria Conto, o ganhador foi o autor Don. Cada prosa deveria ser inspirada em um poema de escritores nascidos ou moradores de Roraima. Don escolheu um da poeta Zanny Adairalba, cuja obra está na sequência.

Dançarina  

Don, primeiro lugar na categoria Conto (Foto: Divulgação)
Era um grupo teatral. Tudo era um espetáculo ao ar livre. De repente, um garimpeiro de folga sentou-se na praça, meio sem ter o que fazer. Ainda há lembranças. Era o segundo ato, cena 38. Uma dançarina benfazeja, uma fada, uma rica criatura, leve, linda, livre, solta. Ela levitava. Praticamente escrevia versos com seu corpo, tentando chamar sua atenção.

Tudo o que ele tentava era retê-la em si. Pouco importava se a trupe agradava ao resto da plateia. O som, as roupas dela, o momento, suas vestes, o movimento, seus trajes, o frenesi, o enlevo. O princípio e o fim. O Alfa e o Ômega. O que era mais belo, a dança ou a Dançarina?
Flautas, adufes, tambores, tamborins, palmas e vozes. Um uníssono. Uma unanimidade. Um em todos. Um!

O que ela imaginava? Ah, o que ela imaginava? Somente ela sabia. Talvez mais ninguém. Porém, o garimpeiro dançava junto. Um amálgama de almas dançando juntas! Em pensamento, ele era livre como ela! Ele estava ganhando o céu, para ganhá-la. A melhor pepita, a melhor gema, a melhor mulher.

O balançar dos cabelos, o cheiro, o riso moleque, o nunca se cansar. Tudo era estudo. Milimetricamente cronometrado. Isto porque o espaço dos milímetros se libertavam dos segundos do tempo. Não havia mais tempo-espaço. Agora eram só os dois.

Um dia, uma hora, um momento aquele delírio teria fim? Sim, claro que não! Diferente das festas dos colegas do garimpo, aquela era a selva que ele se embrenharia o restante da sua vida. Aquela embriaguez ele não trocaria por nada que estivesse em qualquer lugar abaixo do céu.

Mas desde que a terra gira, o mundo é mundo. E o pé, que pisa o chão, tem que aqui estar. A dançarina possui todos os elementos no seu ser, pois ela é uma metáfora que entrou aqui não por acaso: ela é a própria Divindade! E o garimpeiro, o pobre, mas feliz sonhador, este é o que agora cessa de escrever para dançar mais um pouquinho...

....

A seguir, o poema que inspirou o conto acima:

Dança, de Zanny Adairalba

Tento te buscar entre os meus versos
Tua forma
Teus gestos
O teu cheiro.
Tua serenidade diplomática...
Por vezes,
Teu riso moleque,
(teu cheiro)
o balançar dos cabelos
Tento te alcançar para te rever
Para te reter
Em mim.
Tento te buscar
(Tento te buscar)
E por fim te alcanço.
Tento te servir
― Ai que não me cansa...
O me imaginar
O te imaginar
E nos colocar
Numa mesma dança


E AGORA, POESIA 

A primeira colocada foi na categoria Poesia do Concurso Lavradeiros, exclusiva para estudantes de ensino fundamental e médio de Roraima, foi Duda Azevedo, aluna da Escola Ayrton Senna da Silva, de Boa Vista (RR). Confira a obra:

Bailarino

Duda Azevedo, primeira colocada na
 categoria Poesia (Foto: Divulgação)

Cada movimento é uma arte
Sua alma completamente nua
A entrega faz parte.

Seus sentimentos expostos
Como ninguém jamais viu
Sua emoção alarmante
Como ninguém jamais sentiu.

A música vai se elevando
Enquanto aumenta a paixão
Cada toque é um toque
Em seu coração.

Ele traduz a música com o seu corpo
Ele conta uma história sem dizer nada
Ele sabe o quanto exige esforço
Mas tem em si uma vontade nata.

Há quem diga que é um sonho
Outros dizem que é ilusão
A verdade é que o bailarino
Tem a chave da emoção.


CINEMA EM CUBA

Quer tentar ir pra Cuba fazer uma especialização em cinema? Então veja aí que estão abertas até 2 de março as inscrições para o processo seletivo 2018 / 2021 da Escuela Internacional de Cine y TV, em San Antonio de los Baños. As provas serão aplicadas nos dias 16 e 17 de março, em Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Belém (PA)e Brasília (DF) e Fortaleza (CE).  O curso tem duração de 3 anos, com início previsto para setembro de 2018. Diferentemente de outras edições, o Ministério da Cultura não oferece mais o subsídio para as matrículas dos alunos brasileiros. As vagas são para Direção, Produção, Roteiro, Fotografia, Som, Documentário, Edição e TV e Novas Mídias. Mais informações:  www.eictvbrasil.blogspot.com.

PROTAGONISMO



A coach e palestrante Débora Teixeira lançou no dia 19 de janeiro, no Gressb, o livro “Para onde foi seu sonho?”, uma coletânea com 20 autores abordando a superação e realização de seus desejos. Débora escreveu o capítulo 16, com o título “Seja o protagonista”, enfatizando que “o primordial para que o sonho vire realidade é se colocar como o ator principal na peça da vida chamada sonho. Ninguém deve ter maior vontade de realizar do que nós mesmos.”
O livro pode ser adquirido pelo e-mail coach.debora30@gmail.com, telefone 95- 98111- 6126 ou no site da Livraria da Travessa.


NOSSA TERRA

Em dezembro do ano passado, o professor de Letras Devair Fiorotti lançou seu terceiro livro de poemas,intitulado “Urihi – nossa terra, nossa floresta”. São cerca de 40 textos escritos a partir da ótica de um membro da etnia Yanomami que foi sequestrado de sua tribo ainda criança e criado por um garimpeiro. A obra tem ilustrações do artista plástico Jaider Esbell, da etnia Macuxi. Interessados podem adquirir a obra via mensagem no WPP: (95) 99119-6803. Confiram algumas páginas a seguir:












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